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Ondas de Calor

Uma onda de calor é definida pela Organização Mundial de Meteorologia (https://public.wmo.int/en) como um período/evento climático desconfortável com condições térmicas locais superiores acima do normal, atingindo geralmente uma vasta área, podendo durar entre alguns dias a algumas semanas.

É um período que pode ter impactos sociais, económicos e ambientais catastróficos, como os que ocorreram na Europa durante o evento de 2003 ou de 2012. Por exemplo os impactos da onda de calor de 2003 incluem: (i) um aumento acentuado do número de óbitos relacionados com as elevadas temperaturas (De Bono et al., 2004); (ii) redução da produção do pólen (Gehrig, 2006); (iii) redução da massa glaciar alpina (Haeberli et al., 2004); (iv) diminuição da produção agrícola e elevadas perdas de culturas (Chung et al., 2014; García-Herrera et al., 2010); (v) aumento da procura de água e energia (Miller et al., 2008); e (vi) mais de 25 000 incêndios registados totalizando um total de 650 000 ha de área ardida em toda a Europa (De Bono et al., 2004).

Para a caraterização das ondas de calor em Portugal (Parente et al., 2018) e da sua relação com incêndios extremos foi adaptada a definição do Fischer & Schär (2010), por ser adequada quando o objetivo é detetar eventos extremos absolutos de temperatura máxima, que normalmente ocorrem durante o verão. Segundo esta definição uma onda de calor corresponde a um período mínimo de 6 dias consecutivos em que a temperatura máxima excede o percentil 90, sem a remoção do ciclo sazonal.

A temperatura máxima a 2 metros da superfície foi extraída da base de dados meteorológica ERA-Interim (https://www.ecmwf.int/) para período 1981 2010. A sua caracterização espacial encontra-se nas Figuras 1-6, onde se verifica a influência da latitude, continentalidade e proximidade ao Norte de África e ao Mar Mediterrânio.

Para o estudo de futuras projeções foram utilizadas as simulações da temperatura máxima a 2 metros da superfície nos dois novos representative concentration pathways (RCP) 4.5 e 8.5 extraídas da base de dados CORDEX adjust project (http://cordex.org/data-access/bias-adjusted-rcm-data/) e facultadas pelo Swedish Meteorological and Hydrological Institute, para o período de controle (1981 – 2010) e futuro (2021 – 2090), para a resolução de 12 km (EUR-11)

O número de ondas de calor (HWN90), sua duração (HWD90), frequência (HWF90) e amplitude (HWA90) foram calculados para cada ponto do domínio, para cada ano e para cada mês de cada período de 30 anos climatológicos em estudo. Os resultados (Figuras 7-11) indicam valores elevados de HWN90 e HWD90 na zona Transmontana do país, e menores ao redor das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. A distribuição espacial da HWA90 indica valores elevados nas regiões interiores continentais, especialmente na zona das Penhas Douradas e a sul da cidade de Tomar. A distribuição temporal das ondas de calor demonstra que Portugal é maioritariamente afetado por estes eventos entre maio e outubro, atingindo o maior pico de valores de HWF90, HWD90e HWA90 em julho. A distribuição temporal anual indica que podem existir eventos de grande amplitude, mas de pequena duração.

As projeções para o futuro (Tabela 1) anunciam que: (i) para ambos RCP’s HWN90 irá aumentar em 9 ondas de calor em cada período de 30 anos; (ii) as ondas de calor projetadas serão cerca de 6% (RCP 4.5) e 17% (RCP 8.5) mais extensas que as do período 1981-2010; e que (iii) e que HWF90 ir aumentar em cerca de 4% a cada 30 anos.

Parente, J., Pereira, M. G., Amraoui, M., & Fischer, E. M. (2018). Heat waves in Portugal: Current regime, changes in future climate and impacts on extreme wildfires . Science of the Total Environment, 631, 534-549.